ESTATUTO

O Estatuto do Torcedor, no tocante à predeterminação de locais para o torcedor sentar, esta fora de nossa realidade. O sistema de assentos personalizados, em todos os estádios, conforme definições da legislação aprovada, não é aplicável no Brasil.

Assento, segundo o Aurélio, “objeto ou lugar em que a gente se senta”, indica que todos os freqüentadores dos estádios devem assistir aos jogos sentados.

Tradicionalmente, os nossos estádios se dividem em quatro espaços: sociais, arquibancadas, gerais, cadeiras cativas e de aluguel numeradas. Sendo conselheiro do Náutico e velho freqüentador de campos de futebol, desde o ano de 1944, procurei conversar sobre o assunto com Gazzaneo, figura notável que resolveu ampliar o antigo Estádio Eládio de Barros Carvalho, façanha que está realizando, apesar da pouca disponibilidade de recursos.

Condicionar o estádio para receber em grandes jogos 36.000 pessoas, considerando a realidade financeira do futebol brasileiro, é o objetivo do projeto.

Mas, em princípio, se forem implantados os dispositivos do estatuto, num lugar que poderiam caber dois torcedores, caberá apenas um. E se forem acompanhados de crianças que não pagam ingressos, sentarão elas onde? Considerar também que o projeto arquitetônico de ampliação do estádio, detalhes de funcionalidade, em certos espaços caberá normalmente três assistentes. Portanto, se a definição de assentos for cumprida conforme estabelece o estatuto, o estádio do Náutico terá sua futura capacidade de acomodação reduzida para menos de 20.000 espectadores.

Outros problemas a se considerar, são os seguintes. Há uma separação natural entre os torcedores das equipes disputantes. Para tanto, nos ingressos numerados deveriam constar as separações entre os torcedores dos diversos clubes. Os ingressos numerados, pretensão impraticável, não poderiam ser classificados por localização de torcidas. Nos últimos tempos, o policiamento para evitar brigas entre torcedores faz uma separação entre as torcidas organizadas, espaço vazio, também limitando lugares das arquibancadas.

Outro problema que surge seria a acomodação dos portadores de permanentes que se situam em qualquer local do estádio. A solução seria reservar mais um espaço e nos permanentes já estar indicado o assento do portador.

Mudar o comportamento dos torcedores que se acomodam nos espaços intitulados de gerais e arquibancadas é praticamente impossível. Eles assistem aos jogos na maior vibração – gritando e saltando em grupos de um lado para outro, forma coreográfica e emotiva de torcer pelos seus clubes.

Procurar o lugar determinado no ingresso para sentar seria outro drama para o torcedor. O conhecedor dos espaços poderia até dizer, “não quero este ingresso, só quero o de número tal”. Seria muita complicação para o que sempre funcionou normalmente.

As arrecadações nos estádios certamente iriam se reduzir em muito. Os freqüentadores dos jogos, uma grande maioria, são pessoas pobres, que mal podem pagar os preços atuais. Elevar os preços dos ingressos para compensar a queda da arrecadação seria afastar ainda mais o torcedor dos estádios. Para completar a questão custos, sabemos que é caríssima a implantação dum sistema geral de assentos, nos moldes pretendidos.

Finalmente, considerar que tudo isso funciona em estádios situados em países do Primeiro Mundo, freqüentado por elites que pagam ingressos caríssimos e exigem conforto de primeira. Os estádios, inclusive, são cobertos. Aqui, o freqüentador ter de ficar sentado no dia de chuva nas poças d”,água é exigir demais.

Paulo Montezuma é conselheiro do Náutico

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