FOI UM RIO QUE PASSOU EM MINHA VIDA

A esposa olha pro marido. Lágrimas nos olhos ele cala. Os filhos dormem entristecidos. Mais uma decisão, mais uma derrota.

Ela esbraveja com o marido: ‘Vê se cresce, Paulinho!’

E Paulinho murmura pra ela no vazio da noite sem fim.

‘Se um dia, minha nêga, meu coração for consultado para saber se andou errado, será difícil negar’.

Ele toma mais um gole de cerveja quente.

‘Você sabe, minha nêga, meu coração tem mania de amor, amor não é fácil de achar, foi um rio que passou em minha vida e meu coração se deixou levar’.

E pela memória de Paulinho as imagens retornam.

Vinte três anos para um. Dezessete anos para outro. Treze pro time do irmão, vinte tantos para o time do chefe. Trinta e três para a Portela.

‘Só sei minha nêga que não posso definir aquele azul, azul dos olhos teus, minha nêga, azul que não era do céu nem era do mar. Foi um rio que passou em minha vida e meu coração se deixou levar’.

Paulinho vai até o quarto dos filhos. Beija os cabelos dos dois e sonha.

Sonha que carrega consigo uma tristeza.

Imensa.

Mas jamais pensará em um outro amor…

Por ROBERTO VIEIRA

Uma resposta a FOI UM RIO QUE PASSOU EM MINHA VIDA

  1. Carlos Augusto disse:

    Foi esse o rio que passou na década de 60. Esse mesmo rio afogou o náufrago pra nunca mais se levantar.

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