Por: José Gomes Neto
O dinheiro está para o capitalismo assim como o mecenas está para o dinheiro. Não estou aqui defendendo o trabalho escravo, a concentração de renda nem mesmo de latifúndios. Mas o comportamento dos jogadores do Náutico me impressionou. Os caras mudaram da água de esgoto para o mais nobre dos vinhos. Tudo num passe de mágica. Nada como a visita do benemérito alvirrubro Américo Pereira aos Aflitos para adrenalizar o astral dos atletas.
O futebol brasileiro tomou um rumo equivocado, em termos de valores de salários de jogadores. Aliás, trata-se de uma distorção mundial. O mercado dos boleiros entrou num câmbio paralelo, fora da realidade sócio-econômico-cultural de países de qualquer continente ou hemisfério onde a modalidade é praticada. Pois bem, cabe aqui ressaltar que o trabalhador brasileiro, aquele cidadão comum, que recebe um salário mínimo, com pouco ou quase nenhum estudo, mas que sobrevive de maneira digna, não foge à luta.
O indivíduo íntegro respeita as leis, vai ao trabalho todos os dias, quase sempre em transporte coletivo indecente, bate o ponto de entrada e saída, respeita os horários estabelecidos e tem que cumprir as metas traçadas pelos seus chefes e/ou patrões. Sem direito à saúde, se vier a torcer o tornozelo, por exemplo, não vai poder morar no departamento médico da empresa.
Nos raros momentos de laser, a exceção da praia, tudo o que fizer terá que desembolsar para participar. A outra manjada opção é ir ao estádio de futebol – na maioria das vezes, a única coisa que lhe é permitida. Quase sempre, enfrenta filas, maus tratos de policiais despreparados, desconforto com o cimento crespo, e a violência social (ás vezes provocada pelas próprias torcidas organizadas mesmo!) para torcer pelo time do coração. Isso sem direito à maca nem a massagista.
Começa o jogo. A expectativa depois de uma maratona para se chegar ao seu templo sagrado se torna em pesadelo. A decepção é grande. É que ele tem que assistir em campo a 11 personagens que parecem ter saído de uma quadra de tênis. Não sabem se posicionar e ficam alheios ao que acontece durante 90 minutos. Nem sequer sabem trocar três passes certos. Chutar em gol então, nem pensar!
Pois bem. É preciso que os atletas profissionais sejam pagos em dia pelos clubes. Isso não se discute. Agora, o que é discutível, e muito, é o alto valor do contrato que alguns desses “artistas da bola” acham que merecem receber. Os seus agentes e os dirigentes das agremiações deveriam consultar antes um historiador, um contador e um sociólogo para enquadrá-los na realidade social da qual se faz parte. Em especial da realidade financeira do clube.
Depois, deveria haver uma cobrança diretamente proporcional. Explico. Se o cara chega à cara do gol, e chuta pra fora da barra, aí ele deveria ser multado por não fazer o óbvio, ou seja, o gol. Se o time enfrenta, em casa, outro que está na zona de rebaixamento, e não ganha, então também todos terão que devolver o dinheiro que seria o equivalente ao bicho pela vitória. Que tal assim, senhores jogadores!?
Parafraseando o colega Luciano Duarte: “desculpa você que acha que isso deveria se tornar uma prática no mercado dos boleiros, eu tava apenas nervoso”.
Náutico acima de tudo!