Filho de peixe nem sempre é peixinho. Pelo menos no futebol. São poucos os filhos de ex-jogadores que seguem a carreira do pai. Pernambuco é exceção. Atualmente, são quatro aspirantes a craque, tentando seguir os passos vitoriosos do ídolo-mor.
O Náutico é quem mais absorve a filharada. Não chega a ser por simples benevolência. Pelo contrário. O clube apostou na genética de seus jovens atletas e se deu bem.

O meio-campista João Victor, filho do ex-goleiro do Sport Flávio, é uma das promessas do clube. Aos 16 anos, já tem passagem pelas categorias de base da seleção brasileira, pela qual disputou um Campeonato Sul-Americano. Apesar da pouca idade, está no grupo que disputa o quadrangular semifinal da Série B do Campeonato Brasileiro.

“Comecei a jogar na escolinha dele, mas nunca quis ser goleiro”, conta o jogador, desdenhando da posição do pai, que foi campeão brasileiro pelo rival Sport em 87.

Outra cria timbu é o zagueiro Breno. Do pai, o ex-volante do Santa Cruz, Vasco da Gama e seleção brasileira Zé do Carmo, herdou a pegada e o poder de liderança. Capitão do time de juniores, ele foi considerado um dos melhores da posição do Estadual deste ano, quando sagrou-se campeão. A exemplo de João Victor, também integra o grupo principal.

Sua estréia no profissional não foi tão boa. Foi titular no jogo em que o Náutico levou uma goleada de 4×0 do São Raimundo, em Manaus. “O grupo todo falhou. Mas até que ele jogou bem”, defende Zé do Carmo, que também faz as vezes de empresário. “Eu comecei, mas, a partir do próximo contrato, vou colocar alguém para cuidar dos negócios dele”, diz o hoje comentarista.

Breno, 19 anos, admite que a inspiração foi mesmo do pai, que chegou a ser campeão nacional pelo Vasco, em 89. “Eu o via jogando e sempre quis ser jogador”, destaca o zagueiro, que estava na arquibancada em 95, quando o pai sagrou-se campeão pernambucano pelo tricolor, em cima justamente do Náutico.

Da época do pai, hoje só restam lembranças. A coleção de camisas de Zé do Carmo foi extinta pelo fã número 1. “Eu via um cara na rua com uma camisa que era minha. Aí perguntava onde ele tinha arrumado. Ele dizia que trocou com Breno por um monte de porcaria”, lembra Zé do Carmo, completando com uma gargalhada.

Pelo Náutico igualmente passou Rodrigo Carvalho, filho do também ex-goleiro rubro-negro Paulo Victor, campeão brasileiro pelo Fluminense em 85. O atacante voltou para o Rio de Janeiro no ano passado.

No Sport há dois: o goleiro Igor e o zagueiro Ricardo Rocha Filho. Os únicos a seguir a mesma posição dos pais. Igor, 19 anos, é filho do ex-goleiro leonino Ivan. Ricardinho, é o primogênito do zagueiro campeão mundial em 94, Ricardo Rocha.

Ao contrário do pai, conhecido como o xerife de todas as zagas em que atuou, Ricardinho é mais brincalhão. “Eu era muito mole. Ele mesmo não levava a sério quando comecei a jogar. Há uns três anos que foquei mesmo no futebol e venho trabalhando com seriedade”, afirma o zagueirão, de 19 anos.

Questionado sobre ter um pai famoso, campeão mundial pela seleção brasileira em 94 e que chegou a vestir camisas de clubes consagrados como o Real Madrid e Boca Juniors, além de Flamengo, Vasco e Santa Cruz, o filho ressalta: “Tem os dois lados. A maioria das pessoas acha que você só está aqui porque é filho de fulano.” Depois, completa: “Antes atrapalhava. Agora não mais.”