Caos e violência
oficial
Por: José Gomes Neto - Foto:
NauticoNET
Recife, 20 de Outubro de 2008
Nunca
pensei que fosse assistir a tamanha situação
de caos envolvendo um simples jogo de futebol
no Recife. Acostumado a freqüentar estádios
em Pernambuco desde 1983, fazia tempo que não
me impressionava tanto com uma série de
acontecimentos desencontrados e também
de um aparto policial, nos arredores do estádio
da Ilha do Retiro, que mais lembrava os tempos
dos anos de chumbo da ditadura militar. Não
fosse pelo motivo das cores de Náutico
e Sport, eu diria se tratar de um ambiente hostil,
típico de uma guerra civil não-declarada.
Aliás, é essa mesma a melhor definição
do que era para ser um Clássico dos Clássicos,
duelo quase centenário, que envolve duas
das mais tradicionais equipes do futebol brasileiro.
Lamentar. Será só
isso que nos resta? Bom, em todo clássico
o clima que prevalece é aquele mesmo. Então,
eu acredito que devo achar tudo muito normal.
Caçar bruxas não é do meu
feitio, mas ficar esperando por uma solução
divina já é querer demais de alguém
que acredita na intervenção humana,
mesmo se tratando de um mundo quase que totalmente
desprovido de sentimentos humanos. O caos tomou
conta de corações e mentes que,
sob a máscara de rivalidade, infiltrou-se
entre torcedores de verdade (aqueles que apenas
vão ao estádio para acompanhar os
times do coração) e sempre levam
a melhor. Isso é que eu não entendo
e é imperdoável!
O tratamento que o torcida
do Náutico teve na Ilha do Retiro foi digno
de nunca mais retornar àquele lugar. Apenas
um guichê para atender aos torcedores que
tiveram de comprar ingresso de estudante; agressões
verbais dos donos da casa e física por
parte do Batalhão de Choque da Polícia
Militar, com direito a spray de pimenta (porque
nos olhos dos outros é refresco!), socos
e pontapés. Um oficial argumentou que uma
bomba de fabricação caseira fora
lançada da torcida leonina para o lado
dos alvirrubros. Ora, então por que ele
não averiguou de quem partiu o artefato?
Não seria mais sensato e lógico?
Alegar que os alvirrubros
iriam à forra no momento do gol e invadir
o espaço reservado aos rubro-negros é
aviltar a inteligência de todo mundo! Isso
é muito suspeito. Até parece que
houve represália pelo gol do atacante Gilmar,
e a conseqüente euforia do torcedor encurralado
num trecho sórdido de arquibancada. Isso
sem falar que no setor de cadeiras cativas não
havia nenhum espaço reservado para o torcedor
do Náutico. Cadê o Estatuto do Torcedor?
Cadê o tal Tribunal de Justiça itinerante?
Seria tudo isso mera ficção, ou
o tratamento de um campo de concentração
nazista é o modelo?
O interessante é
que a gente não vê esta energia do
BP Choque ser utilizada contra os vândalos
da torcida amarela que barbarizam sistematicamente
após todos os jogos do Sport, seja no Derby,
na avenida Agamenon Magalhães e adjacências,
deixando em pânico pessoas que por ali estão,
apenas exercendo o direito de ir e vir. É
preciso repensar seriamente esta questão,
pois com este tratamento truculento e despreparado
não há como convocar gente para
ir assistir a um confronto naquele campo.
Muitas falhas e poucas
críticas contundentes é o que leva
o torcedor a refletir se, de fato, vale a pena
sair de casa para se submeter a uma desventura
masoquista desta natureza. Um serviço que
não funciona e um aparato policial que
não sabe lidar com pessoas, mas sim com
animas selvagens, que precisam ser adestrados
antes para só depois conviver na civilização,
não é o melhor dos exemplos a ser
seguido. E o pior é que ainda chamam isso
de lazer e entretenimento...
Avante, Náutico!
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